Oiço o toque de entrada para a minha última aula e entro na sala com os meus alunos pintainhos atrás.
Depois de todos se terem sentado e acalmado, demos início às rotinas diárias da aula. Uma das rotinas é abrir a lição no caderno - e é um orgulho ver os meus pequeninos fazerem-no brilhantemente em inglês - e de seguida o meu ajudante do dia vai escrevê-la ao quadro. Os garotos adoram fazer isto. Aqueles que terminam primeiro, colocam o dedo no ar e eu vou lá ao lugar corrigir no caderno, colocando um certo e um smile feitos com uma caneta colorida.
Hoje estava (estou) super cansada e com uma uma dor de costas terrível e, por este motivo, em vez de ir às mesas dos miúdos, fiz o contrário, pedi-lhes para vir à minha.
Às tantas vêm até mim duas meninas das mais inteligentes da sala, que são super caladinhas e trabalhadoras. Enquanto corrijo a lição a uma oiço um som do género "próooo". Parei, pensei duas vezes sobre o que teria sido aquilo e depois conclui que a outra menina tinha dado um "pum"!!!
Com uma vontade horrível de explodir a rir, olhei para a menina que não se envergonhou e nem se mostrou perturbada, olhei para os outros colegas que também tinham ouvido e não cairam na risota e encerrei o episódio dizendo "parece que alguém tem as molas frouxas".
Tenho a forte suspeita que estes meninos comem feijoada durante todo o fim de semana e na hora da minha aula resolvem presentear-me com estes mimos. Ah pois, é que já é a quarta ou quinta vez... vindas de bilhas de gás diferentes!
Foi dia de entrega de testes. Excelentes notas, a nota mais baixa foi um 74%, e a alegria estava estampada no rosto dos miúdos. No rosto e em mais algum sítio...
Depois de todos verem quanto tiveram, perguntar aos amigos a sua percentagem, começou-se a corrigir o teste no quadro. Começo a escrever no quadro e quando me viro...
- Ó teacher... o C. deu um pum..., disse-me a E. num tom quase inaudível.
- Não percebi nada, E. . Repete lá de novo...
- O C. tá aos puns... , repetiu a E. em coro com o K., que está sentado ao lado do C.
"Ai o caraças", outra vez, pensei eu com os meus botões.
- C. vai à casa de banho, se faz favor..., peço eu meio zangada meio a rir.
- Mas eu não quero ir...
- Ai queres, queres... vai lá à casa-de banho...
- Mas eu não quero ir...
- Mas nós também não queremos levar com os teus puns e temos que estar a levar... vai lá à casa de banho... - disse eu mais séria já. é que comecei a sentir o cheiro nauseabundo das ventosidades anais do senhor C. .
Vendo-se sem alternativa, o senhor C., lá levanta as nalgas a custo da cadeira e vai dar uma voltinha até à casa de banho. Excusado será dizer que os outros estavam a rir-se, não do colega, mas da situação caricata que se estava a passar.
Aproveitando a situação para "ensinar boas maneiras", e enquanto me abanava com um teste para afastar o cheirete, disse à turma - cuja maioria tinha o nariz escondido debaixo da camisola - que todos nós fazíamos o mesmo, que era uma coisa normal no ser humano mas que quando tínhamos vontade, pedíamos para ir à casa de banho.
Só a mim é que me acontecem destas! O miúdo deve comer couves e bróculos e cebolas com fartura porque é meio gorducho e assim faz dieta, e depois vem expandir a "alegria" para a minha aula. Deve pensar que eu estou a precisar de "ar novo", de ficar verde... Ó valha-me nossa senhora do sagrado olfacto... Argh!
Estava a ser um dia tão bonitinho – exceptuando a parte dos espirros matinais – até chegar ao meu último tempo lectivo. Hoje foi dia de festa…
Comecei o dia tão bem, tranquilamente, e até apanhei uns chuviscos na cabeça para afastar as ideias negativas.
Arranjei-me toda – material e indumentária a vestir – e arranquei para a escola depois de almoço.
Dois dedos de conversa com as minhas colegas e distribuição de beijos pelos miúdos até chegar a minha hora de começar. Correu tudo bem até chegar ao último tempo.
Cheguei à sala, depositei as coisas, a minha colega abandonou a sala e a minha rotina começa. Quer-se dizer, a muito custo pois os miúdos estavam horríveis, mas lá começou. Abertura de lição, lista de chamada, verificação do homework, rever a matéria dada para confirmar se ficou alguma coisa naquelas moléculas e eis que acontece mais uma situação espectacular.
Mandei o A. tirar as coisas da mochila - como se não fosse autónomo – para começar a trabalhar, 15 minutos passados do início da aula. Este só funciona assim. Só falta eu ir lá escrever por ele, mudar as folhas, etc.
Assim que tirou o caderno da mochila, chamou-me com uns péssimos modos, como se estivesse a chamar um cão… só faltou assobiar!
Chamei-lhe a atenção e disse-lhe que não era nenhuma animal para me chamar assim. É então que se dá a catástrofe…! Ouve-se na sala alguém dizer “é quase…”
- Ok! Pára tudo, ninguém se mexe! Quem foi que disse isto?! - Silêncio de cortar à faca… Os cobardes serão sempre cobardes!
- Ai ninguém se acusa? C. vai chamar o director!
- Ó teacher não…!
Obviamente fiz ouvidos de mercador. O director chegou já informado da situação. Entrou com um ar raivoso e exigiu que o cobarde se acusasse ou então iriam ficar sem intervalo até ao fim do ano. Mas a palavra cobarde diz tudo, certo? É preferível os colegas pagarem as favas por aquilo que não fizeram do que o cobardolas assumir aquilo que fez.
O director ficou especado a observá-los – não deve ter gostado nada de ver que passado 1 minuto eles se estavam a c*g*r para ele –à espera de ouvir uma resposta. Chamou à atenção de alguns deles e depois informou-os que só sairiam dali quando os pais os viessem buscar. Caras de pânico, em geral.
A mim, mandou-me sair pois estava na minha hora.
Então, o que acharam disto? Serão estes meninos um espectáculo como diz a professora titular, ou são todas as professoras (AECs, sala de estudo, intervalo, etc.) que estão erradas? Se as rédeas tivessem sido puxadas desde o 1º ano as coisas seriam assim? O que irá acontecer à turma do 1º ano em que ela vai pegar? Transformar-se-ão em mini-delinquentes? A ver vamos de quem é o mal…